sexta-feira, 24 de outubro de 2014

"A Alma Imoral" - a peça!



Por indicação de uma mestra querida, Esther Frankel – que já retornou à sua morada de origem, há algum tempo atrás, adquiri o livro com o mesmo titulo, por tratar-se de um título curioso para mim: “Como pode uma alma ser imoral?

Bom, o livro ficou ali aguardando o momento certo para lê-lo, pois haviam outras prioridades a fazer – e para ler também. Mas, eu sempre dava uma “esticadela” de olhos para o livro e não conseguia iniciar a leitura.

Eis que tomo conhecimento da “peça”. Fiquei ainda mais curiosa.

Por obra do “destino”, do “acaso”, ou do momento certo deste agora, surgiu a oportunidade de ir ao teatro ver o que realmente havia de “imoral” em uma alma – sem ler o livro. ;)

A atriz, Clarice Nizkier, inicia o seu trabalho relatando como surgiu a idéia de montar a peça, através de um encontro “casual” com o rabino Nilton Bonder – autor do livro, em um programa de TV.

No livro, o autor “compara a psicologia evolucionista à compreensão da natureza humana no texto bíblico. Tomando como exemplo o que denomina de a traição judaico-cristã, Bonder revela que traído e traidor são uma mesma pessoa, em que residem duas naturezas conflitantes, mas ao mesmo tempo interdependentes: o corpo (da conformidade e da adaptação) e a alma (da rebeldia e da mutação).”

Ela traz - “de cara”, uma poesia e intensidade no relato do seu encontro com o rabino que me emocionou profundamente. E inicia citando o poeta e filósofo Sh’lomo Gabirol, que menciona quatro estágios distintos no reconhecimento da estreiteza de um lugar.

*Transcrevo a seguir, na íntegra, o texto constante do livro – página 51. Leia com atenção e perceba em que estágio você está.

“Há os que: 1) sabem e sabem que sabem; 2) sabem mas não sabem que sabem; 3) não sabem e sequer sabem que não sabem e 4) não sabem mas presumem que sabem.O primeiro está no estágio dos acampados diante do mar. Espera por sua chance de atravessar. Reconhece o novo “bom” e permanece à espera de um novo “correto” que melhor se adapte a ele. O segundo deve ser despertado. O lugar é estreito e ele assim o percebe, mas a possibilidade de empreender uma caminhada rumo ao futuro lhe escapa. O presente, avalizado pelo passado, é demasiadamente forte para que se enxergue além. Nessa condição, não será possível ao corpo se sentir encurralado.... e marchar.

O terceiro não reconhece a estreiteza mesmo quando esta já se instalou. Necessita com urgência de terapia para dar conta da sensação de angústia que se origina em não saber o que há de inadequado em sua maneira de perceber seu corpo.

Já o quarto também não reconhece a estreiteza, apesar de possuir um discurso que a desafia. A estreiteza, no entanto, é uma figura de abstração, o que significa que um indivíduo compreenda de fato as diversas escravidões a que está submetido. Não há dúvida, esta é a situação que oferece maior dificuldade. A “amplidão” do pensamento teórico desse indivíduo cria a ilusão de que está à margem do mar. Mas, por nunca ter realmente percebido a estreiteza, não terá como passar no meio do mar. O seco não se fará disponível em nenhum momento, pois não existe condição de “marcha” para quem realmente não se percebe em estreiteza. Nenhum corpo abrirá mão de seus interesses para a alma sem que esteja profundamente consciente de seu desconforto. Este caso fala de um novo “correto”, mas não conseguiu formular nenhum novo “bom” para o mesmo. E um novo “correto” sem um novo “bom” em vista significa aumentar a confusão e a perplexidade. Mesmo o retorno ao estágio em que se percebia “não sabendo e sequer sabendo que não sabe” lhe será muito custoso.

Quando o corpo está exposto à estreiteza, e quando está consciente de que seu desconforto provém dela, surge então a possibilidade de acampar em frente ao mar. A partir desse lugar de impropriedade e angústia, olhamos o horizonte. Chegar até ele não mais será um processo do corpo, mas da alma. Há uma entrega, um despojamento nessa margem, que não só desnuda o corpo mas também o modifica. Essa metamorfose nos assusta com a possibilidade de estarmos abrindo mão de nossa integridade e identidade.”

Para quem me conhece, nem preciso dizer o “filme” que passou em minha mente, com toda a trajetória da minha vida.

Por quanto tempo estive com a mente – ou a alma, entorpecida nesses estágios?

Hoje, já posso ver o “mar se abrindo”..... Sigo marchando!

Na peça, assim como no livro, são muitas as possibilidades de reflexão, a cada parábola, a cada história contada.

Tocou-me a alma e fez todo sentido com a “visão” – embora ainda limitada, do “MAR” e suas possiblidades.

E ainda, na poesia brilhante do rabino Nilton Bonder, reflita:

“Há um olhar que sabe discernir o certo do errado e o errado do certo.

Há um olhar que enxerga quando a obediência significa desrespeito e a desobediência representa respeito.

Há um olhar que reconhece os curtos caminhos longos e os longos caminhos curtos.

Há um olhar que desnuda, que não hesita em afirmar que existem fidelidades perversas e traições de grande lealdade.

Este olhar é o da alma.”

Fico por aqui, para que possamos refletir sobre o que "SOMOS" e o que “precisamos” reconhecer para "SERMOS".

Toda luz neste agora!

Fátima Pedro
Poá, 24/10/2014



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